far out

21 de fevereiro de 2008

o incontente José Duarte

no dia em que começo a ouvir o último do Herbie Hancock, River, The Joni Letters, recebi a 23ª newsletter (Riff 23) da ou do jazzportugal.

uma newsletter muito simples desta vez, complexa na mensagem. José Duarte remeteu apenas um deambulação poética de sua autoria, que passo a transcrever aqui:

Incontente


sabem o que é um Riff ?
se não souberem escrevam-me
se souberem escrevam
um Riff apoia e aquece os solistas
é uma frase curta com swing e simples e repetitível
mal escrito... pois todo o que tem swing é recomendável
é simples e deve ser apoiado
Angeline Jolie e Barack Obama têm swing
Hillary Clinton é uma loura ou loira não sei


pois é verdade ando a viver incontente
incontente comigo
incontente com o jazz
tudo esta situação a aprendi com a idade que alcancei
não vivo para ou do jazz
como muita gente que eu conheço
mas porque o jazz foi muito importante na minha vida
por tal me sinto incontente
assim já não interpretam mal 'incontente comigo'


vou - com uma ou outra ocultação - contar-vos o dia a dia de um homem incontente com ele próprio
substituam jazz pela palavra que muito bem quiserem


oiço cada vez menos jazz
embora seja ou esteja - aprendi na João de Deus - actualizado
nunca gostei de ser ultrapassado e então pela direita
daí esta luta pelo jazz neste país desde 1958
faça sff uma operação de subtracção
meio século


oiço mais quem gosto do que quem não gosto
desde que aprendi a não gostar
tem razão: aprendi a gostar


minto talvez
tenho dúvida sempre
mas afirmo há anos que jazz não morreu
como não morreu o cinema a preto e branco
ou o impressionismo para a pintura também não
nem o dixieland ou o swing ou o bebop ou o free
mas o jazz está parado desde 1967
ano da morte de John Coltrane
o - até agora - último Génio em jazz
afirmo tal como inventou amigo meu que já se foi embora
« free foi inventado porque bebop é muito difícil de tocar»


leio duas revistas n-americanas todos os meses
sempre aprendi com europeus
sou da geração em que Paris era a capital da Cultura
que foi destronada por Londres
esta por sua vez por New York até hoje
gosto de Manhattan ilha em NY


não gosto lá muito de dvds
especialmente quando são cinematograficamente bons
tenho pena de ouver Dolphy que nunca o ouvi vendo-o


sou um incontente jazz
não por minha culpa mas por culpa de outrém
que são senhoras e senhores sem swing
uma espécia de torre de Belém ou Clérigos
monumentos sem swing


não quero que se tornem incontentes
não é essa a minha intenção
longe dela
da intenção...
muito gostava isso sim de vos ter encontrado no « Slugs' »
histórico clube jazz para negros (músicos e público)
no 242 da east 3rd street na altura na mais que perigosa área
lower east side de Manhattan
ou lá encontrar Enrico Rava que confessadamente o frequentou
Rava um rapaz da minha idade
um trompetista latino longe de estar ser um incontente


ser incontente é bom
todos lhes chamam
pessimistas (gosto mais de hipocondríac0s)
velhos (prefiro antigos)
ultrapassados (sem explicarem por quem)


mas a verdade verdadinha é que não sou um Incontente
sou talvez um Inconformado
com o número de concertos em salas e auditórios que todos acreditam apresentar jazz
e de vozes femininas que se supõem a improvisar
com isto
com aquilo
até com a certeza que ainda é útil lembrar
uma ditadura uma polícia 'secreta'
o anti-situacionismo como antiga(não)mente dizíamos
com o swing de Satchmo
com as surpresas que - como todas - passaram as de Ornette


foi Pessoa que escreveu: « futuro não existe »
eu escrevi isto
com muito Contentamento e apreço por vós subscritores amigos


JD


21 fev 08

1 comentário:

margarete disse...

lê-se mesmo com incontentamento (não confundir com melancolia, pois claro)

(andei a reler o Sabbath a semana passada, está lá descrito contentamento)

bjs